Alguns destaques da edição de 2017 da Web Summit, em Portugal
Entre 6 e 9 de novembro, Lisboa recebeu a segunda edição em Portugal do Web Summit, um dos maiores eventos de tecnologia, onde se revelaram tendências e projetos inovadores.
Estiveram 59.115 pessoas de 170 países na Web Summit, 42% eram mulheres.

No último dia, as conferências foram marcadas por Al Gore, aplaudido de pé, pelo discurso emocionado da mulher transgênero mais famosa do mundo, Caitlyn Jenner, e por Sara Sampaio.

Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República, esteve em palco na da Web Summit e afirmou:
“Obrigada, Paddy! Obrigada ao Governo de Portugal. E obrigada a toda a gente que está aqui. A mesma palavra de sempre: orgulho. Tenho muito orgulho de Portugal e dos portugueses. Al Gore já o disse: parabéns a todos! E às pessoas que estão em redor do mundo a criar uma revolução. Vocês são os transformadores, são vocês que estão a mudar a sociedade, a cultura e a forma de vida. Eu estou preocupado com os políticos. Nem todos, mas alguns: eles negam a alteração climática. Em Portugal vamos continuar no Acordo de Paris. Esta revolução significa uma mudança radical para muita gente. Estamos atrasados. E finalmente: esperança, esperança. Eu espero que a nossa próxima reunião em 2019 e em 2020 seja em Portugal. Porque nós merecemos isto. À mesma hora, no mesmo lugar: Portugal merece, os portugueses merecem”.
“As consequências que temos visto dizem que a resposta àquela pergunta sobre de temos de mudar é sim! Claro que sim!”

O discurso de Al Gore é feito de dois pilares: reflexão e ação. O futuro está nas mãos do presente, sublinha o ambientalista constantemente: “As consequências que temos visto dizem que a resposta àquela pergunta sobre de temos de mudar é sim! Claro que sim! No que estão a pensar? Não podemos condenar a próxima geração ao desespero e sofrimento!”. Mas será que podemos fazer isso, será que vamos a tempo? “A mina resposta é um sim muito redondo. Vejam o que está a acontecer no mundo da tecnologia e concentrem-se no ramo da energia: a tecnologia está a melhorar a área da energia solar, da energia eólica. Temos veículos elétricos. Temos as ferramentas todas ao nosso dispor, mesmo contra os sistemas políticos instaurados contra isso: as pessoas continuam a ter a voz mais poderosa”.
Não estamos assim tão longe de arranhar soluções definitivas: “O nosso mundo está nos primeiros passos de uma revolução de sustentabilidade tão importante como a Revolução Industrial mas com a velocidade de uma revolução digital. Constroem-se automóveis sustentáveis, a internet das coisas! E isso deve-se às pessoas que estão dentro desta sala, porque há um número cada vez maior de investidores desejosos de conhecer jovens que usam os seus conhecimentos e capacidades para encontrar soluções. Esses jovens são vocês: muito obrigada pelo que estão a fazer. Porque já estão a fazer uma grande diferença”.
“A única coisa que EUA deviam eliminar era o presidente atual em 2020”
Falando sobre a crise da água, Al Gore diz que os ciclos naturais estão disrompidos. “É por isso que temos tantas inundações” e outros fenômenos naturais, destacando os “piores incêndios” que a Califórnia conheceu bem como os vários furacões que têm passado pelos EUA. “Um terço do Bangladesh já está debaixo de água”, disse Al Gore, sublinhando que a crise climática “é um fenômeno global”, mas que a energia que é gasta na disrupção do sistema de água também traz água ao solo. “É isto que acontece em Portugal, Espanha, Grécia, Itália. África está a viver a pior crise humanitária de sempre, com milhões de pessoas a morrerem à fome.” Al Gore fala ainda da Síria, que bem antes da guerra civil sofreu do mesmo. “Os ministros da Síria diziam que não iam conseguir resolver isto e foi assim que a guerra civil começou.”
Sobre o Brexit, Al Gore levou a plateia novamente à euforia, recordando a imagem de vários refugiados nas fronteiras. “Há uma disrupção política que está a sair desta crise climática”.
Al Gore diz: “Há uma colisão entre a civilização humana tal como a criámos e os sistemas ambientais que compõem o ambiente deste planetas. A vitalidade dos oceanos, por exemplo, está a morrer porque o plástico está a tapar o caminhos dos peixes. Perdemos quintas, florestas virgens. Mas a coisa mais importa desta colisão é a crise climática. E é porque essa é a coisa mais vulnerável do sistema ecológica da Terra. A atmosfera, num dia bonito como este até parece eterno. Mas é uma fina camada em volta da Terra”.
Al Gore: “A democracia foi atacada em muitos países”

Wyclef Jean diz que “no final do dia, a coisa mais importante do mundo é criar. Se fores um criador, não te queixas. Estás sempre a criar. Há muitas artistas da minha era que só queriam era conseguir sobreviver. Sempre encorajei as pessoas não só a abraçarem a tecnologia, mas a compreendê-la totalmente. Isto é muito importante para o futuro”, disse o rapper que acabou de lançar o seu sexto disco a solo, o “Carnival III: Fall and Rise of a Refugee”.
Já o presidente do Deezer adiantou que a indústria da música está a crescer outra vez, o que já não acontecia há muito tempo. “A maioria das nossa receitas vão para as editoras e acho que o facto de o streaming estar a servir de base para este negócio é bom, apesar de ser um mercado pequeno. Isto é apenas o início de uma grande oportunidade.” O DJ e produtor Martin Garrix, de 21 anos, acrescenta que quando olha para quantidade de música que consegue armazenar no seu computador percebe que “é de doidos”.
Andrew Jones, criador dos efeitos visuais do filme “Avatar”
É através da realidade virtual, que Andrew combina a performance real dos atores com os processos virtuais dos efeitos visuais. O artista fez também parte da equipa de efeitos visuais do remake de 2016 “O Livro da Selva”, que ganhou o Óscar nesta categoria na última edição da cerimônia, em fevereiro de 2017.
Caitlyn Jenner: “As transições não têm nada a ver com sexualidade, têm a ver com identidade”
“As pessoas não percebem os nossos problemas, o que é ser transgênero”, afirmou Caitlyn no palco da Web Summit. “Vou colocar uma questão às mulheres da sala, uma que nunca tiveram de responder na vida: quando é que souberam que eram uma rapariga? É algo tomado por garantido, mas no caso dos transgêneros isso afeta a mente 24 horas por dia, 365 dias por ano. Como é que vou lidar com isto durante toda a minha vida? As transições não têm nada a ver com sexualidade, têm a ver com identidade.”
“Sentia-me uma fraude“, diz Caitlyn Jenner sobre a vida antes da transexualidade
Qual o papel da Google quanto a Fake News? Pergunta-se.
Brittin afirma: “Temos de encontrar quem faz estas notícias e cortar os ganhos monetários”.
11 mil milhões de dólares foram pagos pela Google em 2015 só em anúncios. É preciso perceber a quem se está a pagar o dinheiro. Brittin afirma que a Google tem cortado a monetização em conteúdos nas suas plataformas em milhares de milhões de conteúdos, mas isso ainda não suficiente.
E quanto ao discurso de ódio nas plataformas da Google? “40 horas são introduzidas no Youtube a cada minuto”, diz Brittin. “É verdade, não temos feito o melhor trabalho”, mas um esforço grande tem sido feito nesse propósito. A Google tem trabalhado com organizações não governamentais para melhorar a cesura destes conteúdos e tirá-los das plataformas mais rapidamente.
“A população da Internet vai duplicar”
“Este movimento está a democratizar as transações monetárias”, diz Burniske. Já Joseph Lubin diz que este mercado das criptomoedas “vai ser cada vez maior”. Lubin explicou que as vantagens deste sistema é que acaba com as burocracias dos sistemas bancários para se usar dinheiro.
Mas quais os maiores objetivos para a criptomoeda? “Melhorar as interfaces”, diz Burniske.
O CEO da Privategrity, que protege a identidade dos utilizadores (e que foi criticado por isso), diz que a empresa que criou é “cativante”.
Se é uma bolha ou não continua a pergunta no ar, mas as criptomoedas estão a dar bastante que falar nesta edição de 2017 da Web Summit.

“41% das empresas que participam na Web Summit encontram investidores”
Paddy Cosgrave falou aos jornalistas numa conferência de imprensa: Em três anos da Web Summit, mais de 2000 startups — que representam 41% das empresas representadas nos pavilhões do evento — conseguiram encontrar investidores que também participaram neste que é o maior evento sobre tecnologia e empreendedorismo do mundo. Mas Paddy Cosgrave é humilde a falar destes números: “Estas percentagens são dúbias porque algumas destas startups iriam ter sucesso de qualquer modo porque são muito boas por natureza”.
O país com mais empresas representadas na Web Summit é o Reino Unido. Segue-se a Alemanha e França, de acordo com os dados consultados por Paddy Cosgrave na conferência de imprensa. Segundo o empreendedor, o facto de os britânicos estarem cada vez mais motivados a entrar no mundo das startups justifica-se com o Brexit: “Eles estão numa onda de mudança”. Mas Paddy Cosgrave põe outro país na mira do crescimento de startups: Angola, que teve muitas empresas em exposição na cimeira.
Ao organizar a Web Summit 2017, Paddy Cosgrave quis tornar esta cimeira numa ode à igualdade de género: 42% dos participantes e 34% dos oradores são mulheres.

O co-fundador da Web Summit voltou a elogiar o apoio do primeiro-ministro português, António Costa, e do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, na organização da Web Summit. Segundo ele, “é incrível a mobilização de polícias e de bombeiros. Os aeroportos também fizeram um trabalho tremendo, o metro e os serviços de transportes públicos também estiveram à altura. É difícil imaginar o nível de coordenação num evento que exige uma segurança mais apertada tendo em conta as pessoas importantes que vêm cá”.
De acordo com Paddy Cosgrave, cerca de 2000 voluntários cooperaram diariamente com a Web Summit durante os dias em que decorrem os eventos. Têm em média 21 anos e a maior parte frequenta a universidade: “Sabemos que para um jovem desta idade é difícil suportar os preços dos bilhetes, até mesmo dos mais baratos. Esta é uma alternativa para que todos possam participar e aprender”. Sobre as críticas que têm sido tecidas a esta estratégia da Web Summit, Paddy Cosgrave diz que elas são bem-vindas: “Acho bem que as pessoas defendam as suas opiniões. É uma parte importante e fundamental da nossa democracia”.
Para Paddy Cosgrave, a inteligência artificial é tão central na discussão da Web Summit que “podia haver uma conferência de 3 dias exclusivamente para este assunto”. À semelhança de Stephen Hawking, também o empreendedor irlandês pede cautela ao discutir uma realidade híbrida entre humanos e máquinas inteligentes: “É inevitável pensar num futuro onde as máquinas possam chegar a ser mais inteligentes do que nós. Isto é algo que é preciso discutir. Quando os carros vieram para as nossas vidas, foram precisos longos anos para termos a regulação certa para essa tecnologia conviver em paz conosco: usar cintos, usar as luzes, ter sinalização. Aqui vai ter de acontecer o mesmo”.