O professor, jornalista e historiador Cid Teixeira foi sepultado na tarde desta quarta-feira (22), no Cemitério do Campo Santo, em Salvador. Familiares, amigos e admiradores se despediram do homem conhecido na segunda metade do século XX como a “Memória da Bahia”. Cid faleceu na terça-feira, 21.
Formado em Direito, preferiu trilhar outros caminhos. Trabalhou em jornais de Salvador, fez programas de rádio e foi professor de História. Frequentador do Gabinete Português de Leitura da Bahia, Cid recebeu a homenagem do jornalista, pesquisador e diretor de cultura do Gabinete, Flávio Novaes (na foto, com o professor Cid, em 2007), por meio de um artigo publicado na edição de hoje do jornal A Tarde. Confira o texto abaixo:
Tá valendo, professor
De pronto, cabe registrar: ouço de Cid Teixeira alguns “não sei”. Poucos, é verdade. Como a origem do nome Chame-Chame, lembro bem. E, quando ele responde com informação, sempre traz as fontes.
São horas e horas de bate papo, em uma relação de amizade formada após dias de apuração. No primeiro contato, tristeza: rasga folhas do talão de cheque do filho Afonso, recém-falecido àquela altura. Conversas na Academia de Letras da Bahia, no Instituto Geográfico e Histórico, na Belle´s da Afonso Celso e na casa-escritório-biblioteca na Rua das Rosas, almoços no Kirin. Ou no apartamento da Paulo VI, um três quartos repleto de livros. SÓ de livros, na cozinha e nos banheiros, inclusive. Na sexta-feira seguinte à publicação, o inesquecível almoço no Varal da Dadá, no Alto das Pombas.
Seguimos. Cada encontro, uma aula. Eu acompanho as palestras. Em uma delas, no CREA, na casa dos engenheiros, no Vale do Ogunjá, aprendo: “os senhores sabem que o óleo de baleia não dá liga, não faz argamassa. O dinheiro da venda do óleo de baleia para a Europa é que financiou a construção de muitos edifícios em Salvador”.
Bom humor, sempre: “Maluco é quem empresta livro raro; doido é quem devolve”. E em um passeio no meu Gol Bola 1.0, vamos conferir a iluminação de Natal no Terreiro de Jesus e na Praça da Sé. Na altura do cruzamento da Ajuda com a Ladeira da Praça, trânsito interditado. O policial se aproxima e olha para o carona. Vê um sorriso tímido. Retribui, autoriza a passagem.
Profundo conhecedor da evolução urbana da primeira capital do Brasil, sugere para uma das novas ruas da Pituba o nome Miguel Navarro Y Cañizares. A antiga, em Nazaré, dedicada ao pintor espanhol, morador da cidade no final do século XIX, havia desaparecido com as obras da Fonte Nova, no início dos anos 1950.
Sabe tudo da cultura popular. Mais, da soteropolitana. Tem guardado bilhetinhos jogados pelo povo em direção ao Caboclo no Dois de Julho com pedidos de graças e um pedaço do pote quebrado no histórico clássico Bahia x Botafogo. Não é amante do futebol. Mas assiste aos jogos do Brasil nas copas saboreando um prato típico do país adversário. Da culinária baiana, reclama da salada no acarajé: “Qualquer hora dessa o turista vai colocar ketchup”.
Na conversa de 1º de julho, pede com jeitinho, quase implora: “Amanhã, não esqueça a Cabocla, não. Fica ali sozinha, ninguém dá bola pra ela”. Então, antes de chegar ao Campo Grande, passo para conferir a estátua, em frente ao Quartel dos Aflitos.
Sabe transitar com elegância entre o Jornalismo e a História. Chefia redações, escreve, torna-se referência e vira consultor de primeira hora para repórteres. Reclama. Às vezes se sente um produto descartável, não há o retorno esperado após a publicação do texto que ajudou a produzir.
Mas, segue disponível. “Tá valendo”, responde. Cid Teixeira, o Senhor História, inesquecível, está sempre presente.