Farol da Barra

O que é uma baía

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“Ser baiano” é viver em uma permanente festa…  para os olhos.

Hoje, quem chega pelo mar à “Bahia”, isto é, à Cidade do Salvador – capital do estado da Bahia/antiga capital do Brasil – ainda percebe quase a mesma fachada de sempre, com o seu pavimento térreo, ao nível do mar; e o superior, a arranhar o céu –separados por uma visão de encostas verdes e ladeiras marrons– em contínuo processo construtivo de substituição daquela cor por esta – da vegetação pela construção, da natureza pela engenharia. Assim, de fora, apenas em frente à sua fachada, ninguém percebe que – no seu interior, por trás desta – há um nível intermediário também com água (o dique do Tororó), que, nos anos do século passado, era conhecido como o “dos trilhos centrais” dos bondes, hoje substituídos pelas famosas “avenidas de vale” dos automóveis.

Em verdade, essa cidade é quase uma ilha, com água por três lados – uma península entre o Oceano Atlântico (de frente para a África) e a Baía de Todos-os-Santos – com sua ponta voltada para o Sul, chamada Ponta do Padrão, onde se encontra uma fortaleza (Forte de Santo Antônio) na qual foi montado um farol (Farol da Barra) e instalado um museu náutico, exatamente o ponto que determina o extremo norte da barra da Baía de Todos os Santos, isto é, da linha que é a sua boca, ligando tais pontos extremos, ou melhor, separando as águas da baía daquelas do oceano. Há, já, algum tempo que, por motivos estratégicos e econômicos – o governo federal do Brasil alterou essa linha, que os descobridores portugueses haviam definido geograficamente ao pôr a outra ponta (extremo sul da barra) em uma fortaleza construída na foz do rio Una, em Morro de S. Paulo, determinando-se que a Capitania Hereditária da Baía de Todos-os-Santos terminava ali, fazendo limite com a de Ilhéus. Assim, a nova determinação político-econômica, contrariando a geografia, trouxe esta outra extremidade da boca da BTS para a ponta do Garcez, atrás da ilha de Itaparica, onde está até hoje, determinando uma “barra-falsa”, contra a natureza, assim anticientífica. O governo federal brasileiro fez uma Baía de Todos os Santos menor do que aquela, feita pela natureza e descoberta pelos portugueses.

Adinoel Motta Maia

Forte de São Marcelo na Baía de Todos os Santos.
Foto Manu Dias/SECOM

Semana Virtual BTS 2020 começa hoje no GPL

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Dias difíceis, de distanciamento social, impedem o Gabinete Português de Leitura de receber os amigos de sempre. Mas as atividades continuam, de forma virtual.

Hoje abrimos mais uma Semana da BTS com crônicas do professor Adinoel Motta Maia. Até 5 de novembro, um texto por dia vai celebrar mais um aniversário da Baía de Todos-os-Santos, comemorado em 1º de novembro.

Filho de português, Adinoel Motta Maia é professor, pesquisador, escritor e colaborador do GPL. É também autor do Projeto BTS (Geografia e História dos transportes na Baía de Todos-os-Santos e seu Recôncavo).

Semana (mais uma) da BTS

Há muitos “baianos” que nada sabem sobre a sua Baía de Todos-os-Santos, mesmo nascendo e vivendo às suas margens. Muitos dos que moram em Salvador sequer sabem onde começa e/ou termina. Para iniciar – ver na História do Brasil – ela é uma das capitanias hereditárias. Por vontade nossa, voltando de uma viagem a Belo Horizonte (Minas Gerais), onde seus habitantes se referem à cidade simplesmente como BH, começamos a falar e escrever BTS, publicamente, para nos referirmos à Baía de Todos-os-Santos e logo muitos adotaram esse apelido. Também estamos intervindo contra um erro que está sendo cada vez mais praticado, porque oficialmente, a Marinha Brasileira considera, como verdadeira, a barra falsa da baía entre a ponta do Farol da Barra e a ponta do Garcez, atrás de Itaparica – leiam a nossa crônica de amanhã, aqui – como sendo a oficial, científica, geográfica. Não o é.

Nesta Semana da BTS 2020, que hoje começa, vamos abordar algumas questões que temos de considerar, como todos os baianos que se interessam pela geografia e história do lugar onde nascemos e vivemos. Nossa primeira proposta é justamente a da importância de conhecermos essa terra, onde crescemos, estudamos e fizemos nossos filhos.

A cada ano, nestes dias, temos a oportunidade de reunir todos os baianos nascidos em volta da Baía de Todos-os-Santos para uma atividade intelectual que promova o conhecimento e a discussão dos anseios, das realizações e dos resultados obtidos no ano que se foi, para programar as ações a serem incrementadas no ano que se seguirá – cada um na sua área de competência não só profissional como cultural – como ocorre nas comunidades mais desenvolvidas do mundo, nas quais temos de nos espelhar. Afinal, não somos apenas animais (seres que se movem), mas, sem dúvida, intelectuais capazes de planejar e realizar obras que beneficiam as pessoas, as comunidades, as nações e toda a humanidade. Fora dessa proposta, é somente a pobre vida irracional dos seres que apenas acordam, comem e dormem… profundamente!

Professor Adinoel Mota Maia

Foto: Manu Dias/ SECOM