Orlando teatro ufba

GPL vira palco para espetáculo teatral da UFBA

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As dependências do Gabinete Português de Leitura se transformaram no palco para o espetáculo Orlando, especialmente montado para a conclusão de curso da estudante Letícia Mensitieri, no Bacharelado em Interpretação Teatral da Escola de Teatro da UFBA. A montagem estreia neste domingo (4.7), às 20 horas, no Canal do Youtube/teatroufba da Escola de Teatro da UFBA.

Com direção de Meran Vargens e codireção de Vica Hamad, a peça presta uma homenagem aos 80 anos de morte da escritora e ensaísta Virginia Woolf. A adaptação do texto é da formanda Letícia Mensitieri. O romance de Woolf, escrito em 1928, conta a história de Orlando, personagem que atravessa 400 anos de história trazendo à tona a discussão sobre gênero e sociedade, sobre as diferenças sociais e o valor da arte.

O espetáculo fica disponível até 11 de julho no Canal do Youtube/teatroufba da Escola de Teatro da UFBA.

Catatau - os 4 na tela

Assista à primeira edição do projeto Diálogos Atlânticos

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O início de uma festa da literatura, regada a Catatau, de Paulo Leminski. A primeira edição do projeto Diálogos Atlânticos, uma realização do Gabinete Português de Leitura da Bahia em parceria com o jornal Sinal Aberto, promoveu um divertido bate-papo, ontem (27.5), no canal do YouTube do Gabinete Português de Leitura da Bahia.

Clique aqui e assista ao encontro que reuniu Osvaldo Silvestre, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e coordenador do Instituto de Estudos Brasileiros; Sandro Ornelas, Professor de Literatura do Instituto de Letras da UFBA; Pedro Serra, professor do Departamento de Filologia Moderna da Universidade de Salamanca, na Espanha; e o escritor Breno Fernandes.

A máquina de fazer espanhóis, de Walter Hugo Mãe, é a próxima obra que vai ganhar uma roda de conversa na segunda edição do projeto, em 30 de junho, às 18 horas (BR) e 22 horas (PT).

Curso Yoruba

Inscrições abertas para o Curso Lições de Língua Iorubá-Nagô para iniciantes

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O professor Adelson Silva de Brito irá ministrar a partir do Gabinete Português de Leitura da Bahia – com o apoio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia – o curso “Lições de Língua Iorubá-Nagô para Iniciantes”, que acontece entre os dias 24 de setembro a 22 de outubro, com aulas semanais no formato on-line e carga horária de 20 (vinte) horas, com direito a certificação.

O investimento para participar é de R$ 100 (cem reais) e a inscrição pode ser feita nas plataformas Sympla e Eventbrite.

Além de demonstrar que a língua Nagô falada no Candomblé é, em verdade, uma língua conversacional, como o inglês, o francês, o português, etc., e que, por conta da diáspora, é  falada por cerca de 35 milhões de pessoas em alguns países da Costa Ocidental da África e nas Américas, inclusive no Brasil; o Curso tem também como um dos principais objetivos demonstrar a existência de uma estrutura formal léxica e sintática na língua Iorubá-Nagô falada todos os dias nas Casas de Candomblé de Queto ou Candomblé Nagô e nas práticas litúrgicas das religiões de matriz africana relacionadas com essas tradições afro religiosas.

Por isso, durante as aulas, serão abordados a conversação regular do dia-a-dia em língua Iorubá-Nagô e aspectos culturais comuns aos povos Iorubá na Nigéria e na diáspora africana, além da estrutura da língua nos seus processos fundamentais de comunicação (pronomes, verbos, preposições) e a língua falada no dia a dia como instrumento de interação social e cultural, entre os indivíduos.

O curso será ministrado pelo professor Adelson Silva de Brito, Mestre em Saúde, Ambiente e Trabalho; Licenciado em Física; Pesquisador no campo das desintegrações nucleares naturais; Professor de Língua e Cultura Iorubá na Casa da Nigéria, e de Língua e Cultura Iorubá no Centro de Cidadania – CECI do Departamento de Direito da UNIFACS, dentre outras instituições de ensino. Atualmente, as suas funções religiosas na Tradição de Matriz Africana Jeje-Nagô, no cargo de Mawó (Ministro de Grande Confiança e Embaixador entre as Culturas Jeje e Nagô) tem se tornado o foco da sua atuação. As pesquisas sobre os Rituais da Liturgia Jeje, estão conduzindo o seu projeto de doutorado para a área da Antropologia e da Etnografia da Cultura Religiosa Jeje na Bahia.

SAIBA MAIS:

Em setembro de 2019, um projeto de lei proposto pelo ex-prefeito de Salvador, Edvaldo Brito, e que torna a Língua Iorubá um patrimônio imaterial de Salvador (a cidade mais negra do mundo fora do continente africano), foi aprovado por unanimidade no plenário da Câmara Municipal.

A língua Iorubá-Nagô é falada em vários países do mundo, como Brasil, em Cuba, Togo, Costa do Marfim, Venezuela, Trinidad-Tobago, no Sul dos Estados Unidos, no Togo.

Os Iorubas são um grupo étnico da África Ocidental.

No mundo todo, eles somam cerca de 45 milhões de indivíduos dos quais 35 milhões vivem na Nigéria. Eles constituem cerca de 20% da população daquele país, junto com outras etnias, dentre as quais estão: Akan, Hausá-Fulani, e Igbo, os Iorubas formam um dos maiores grupos étnicos na África.

Os Iorubás são uma metaetinia, um guarda-chuva étnico que abriga várias sub-etnias, tais como: os Kétu, Òyó, Ìjèṣà, Ifè, Ifòn, Ègbà, Èfòn etc. Esses deram origem, na diáspora, à religião dos Òrìṣà. Todos falam línguas mutuamente inteligíveis identificadas como uma grande e única língua: a Língua Ioruba.

PROGRAMAÇÃO

Ẹ̀kọ́ kìnní/Primeira Lição

ÀWỌN ỌMỌ ODUDUWA/OS FILHOS DE ODUDUA

Àwọn ọmọ Yorùbá wá de ni Amẹ́rikà/ A chegada dos Iorubas à América.

ABD, Álífábẹ́ẹ̀tì Yorùbá/ABD, o Alfabeto Iorubá.

Àwọn Fáwẹ̀lì Yorùbá/ As vogais Iorubá

Awọ̀n kọ́ńsónàǹtì Yorùbá/ As consoantes Iorubá

Ìyàtọ̀ láàárín Álífábẹ́ẹ̀tì Yorùbá àti ti Gẹ̀ẹ́sì.

Ìró ohùn ni òpó èdè Yorùbá/ O tom é o pilar da língua Iorubá.

Ìlànà fún pípe Álífábẹ́ẹ̀tì Yorùbá/ Orientação para a pronúncia das letras do Alfabeto Iorubá.

 Ètò ọ̀rọ̀ ni a ń pè ni Mọfọ́lọ́jì/Estrutura das palavras ou Morfologia

Jẹ́ ki a sọ Yorùbá / Vamos falar Iorubá

Isọ̀rọ̀ngbèsì / Diálogo

Àwọn ọ̀rọ̀ / vocabulário

Àwọn lẹ́tà tí ó máa ńsábà /As letras usualmente difíceis

Àwọn ọ̀rọ̀ ti o tọka si eniyan ibi tabi nkan (àwọn ọrọ) / Palavras relacionadas a gente, ou coisas (substantivos)

Ẹ̀kọ́ keji/ Segunda Lição

ÌKÍNI TABI KIKI NI J ÀŞÀ PÀTAKI NINU ÀWỌN YORÙBÁ / A SAUDAÇÃO OU CUMPRIMENTO É UMA TRADIÇÃO IMPORTANTE PARA OS IORUBÁ

Ẹ jẹ́ ki a bẹ̀rẹ̀ lò Yorùbá!!! /Vamos começar a usar o Iorubá

O Kíkí àwn àgbà àti ni tí ó junilọ /Cumprimentando as pessoas idosas e aquelas mais velhas do que você

Òǹkà Yorùbá/Contagem em Iorubá

Ìkíni láàrin ọjọ́ / As saudações ao longo do dia

Àwọn Isọ̀rọ̀ngbèsì Apa Kinni/Diálogos: primeira parte

Ṣẹ́gun ń ki bàbá rẹ ni òwúrọ̀ kùtùkùtù/Segun cumprimenta o pai cedo pela manhã

Ọmọbinrin kan ń ki ìyá rẹ nigbati ó ba wọle/A fiha cumprimenta a mãe que chega em casa

Tunde ati Titi ń ki ìyá rẹ ni òwúrọ̀ kùtùkùtù/Tunde e Titi cumprimentam a mãe deles cedo pela manhã

Ṣadé ń ki ọ̀rẹ́ rẹ, Funmi, ni ilé-ìwé ni ọ̀sán/ Sade cumprimenta sua amiga, Funmi, na escola pela tarde

Ọ̀rọ̀ ninu kíláàsì/ Comunicação em Sala de Aula

Ojoojúmọ́ aye/ A vida cotidiana

Ẹ jẹ́ ki n kawé!!!/Vamos ler!!!

Ẹ̀kọ́ kẹta/Terceira Lição

KIKỌ ATI KIKA NI YORÙBÁ/ESCREVENDO E LENDO EM IORUBÁ

Ẹ jẹ ki a gbé èdè àti àṣà Yorùbá Lárugẹ! / Vamos manter a viva a Língua Iorubá!

Àwọn ọ̀rọ̀ tí a fi dípò orúkọ tabi àwọn Alòfò/As palavras usada em substituição ao substantivos, ou seja, pronomes

Atọkun ọ̀rọ̀ /Preposições

Àwngbolohùn ti wúlò fún alákọbẹ̀rẹ̀ / Frases úteis para iniciantes

Kíkí àwn ara ilé / Saudando as pessoas de casa

Orúkọ àwọn ẹranko ni Èdè Yorùbá/ Nomes dos Animais em Iorubá

Kikọ ati kikà ni Yorùbá/Escrevendo e lendo em Iorubá

Ẹ̀kọ́ kẹ́rin/Quarta Lição

ÈDÈ YORÙBÁ: LÒ Ó, BẸ́Ẹ̀ KỌ́ ÌYỌ YÓÒ PÀDÁNÙ RẸ̀/

LÍNGUA IORUBÁ: USE-A, OU ENTÃO, ELA SE PERDERÁ

Òdi ni èdè Yorùbá/Negação em Iorubá

Èdè yorùbá: Lò ó, bẹ́ẹ̀ kọ́ ìyọ yóò pàdánù rẹ̀/Língua Iorubá: use-a ou ela se perderá

Àwọn ìtan ti àwọn ọjọ́ to wà nínu ọsẹ/A história dos dias da semana

Kojoda / O calendário

Jẹ ka sọ Yorùbá!/Vamos falar Iorubá!

Àwọn Isọ̀rọ̀ngbèsì Apa Keji/Diálogo: segunda parte

Ẹbí Adéwálé náà/ A Familia de Adewale

Aṣọ ni Èdè Yorùbá/ Roupas em língua Iorubá

Iṣẹ́ ṣíṣe/Exercícios

Ẹ̀kọ́ karùnún/Quinta Lição

NI ỌJỌ́ ẸTI, ỌJỌ́ KARUN TI A TI BẸ̀RẸ̀ ILÉ-IWÉ NI Ọ̀SẸ̀/ NA SEXTA-FEIRA, QUINTO DIA DA SEMANA DESDE O COMEÇO DA SEMANA ESCOLAR

Òǹkà Yorùbá/Contagem em Iorubá

Awọn ìbèèrè ni Yorùbá/ Fazendo perguntas em Iorubá

Orúkọ mi ni Adébọ́lá/ Meu nome é Adebolá
Wúlò gbolohùn fun alákọbẹ̀rẹ̀ / Frases úteis para iniciantes

Dáhùn àwọn ìbéèrè wọ̀nyí ní ẹ̀kúnrẹ́rẹ́/ Responda as seguintes questões usando formas completas.

Yoruba Ye mi/Eu entendo o Iorubá

Confira os links de inscrição:

Sympla

Eventbrite

20190522 Reunião HP (2)

Encontro entre o Gabinete, a Câmara de Comércio e o Hospital Português

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A vitalidade e o dinamismo de qualquer Comunidade se refletem, também, nas diversas laços e protocolos que eventualmente possam estreitar as suas relações. Atualmente, a Direção do Gabinete Português de Leitura da Bahia, procura avidamente o estreitamento desses laços, sobretudo com as outras entidades que representam o universo da Comunidade Portuguesa no Estado da Bahia

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O Gigante Adamastor Animação 3D - PAP EPRAL Elvas 2012

Celebrando Camões, Recife

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José Rodrigues Paiva.
Celebrando Camões.

Recife: Associação de Estudos Portugueses Jordão Emerenciano, 2016, 82 p.

AGRADEÇO AO PROF. DOUTOR MANUEL FERRO, DA FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA, A GENEROSA RESENHA QUE FEZ DO MEU LIVRO “CELEBRANDO CAMÕES”, PUBLICADA NA REVISTA ACADÊMICA “LIMITE” E QUE TRANSCREVO A SEGUIR:

 

Manuel Ferro
Universidade de Coimbra
ferro@fl.uc.pt

Quatro são os ensaios de fundo de José Rodrigues de Paiva reunidos no volume recentemente editado que se destina a celebrar o poeta maior da língua portuguesa, tal como na capa é de imediato sugerido, quer pelo título, quer pela ilustração que reproduz uma gravura de Forsell com desenho de A.-J. Desenne, da edição d’Os Lusíadas do Morgado de Mateus, de 1817. O aparecimento deste livrinho impõe-se agora num momento determinante da carreira do autor. Quando se multiplicam as homenagens que lhe são dirigidas, consagra ele este preito a um dos poetas que mais o marcaram e inspiraram, constituindo esta obra também um ponto de chegada do seu percurso de académico no âmbito dos estudos camonianos. O brilhante trajeto do autor enquanto escritor, crítico, investigador e docente universitário na Universidade Federal de Pernambuco é esboçado no final do volume numa súmula brevemente designada por “O autor”. Entre a atividade desenvolvida, refira-se ainda o facto de ter sido fundador e diretor das revistas Encontro, do Gabinete Português de Leitura do Recife, e Estudos Portugueses, da referida Universidade, participando ainda com diversas e díspares intervenções dentro e fora da instituição universitária, em projetos de extensão e pesquisa, bem como na colaboração sempre ativa em publicações de índole variada.

A enquadrar os ensaios abre-se o volume com uma “Nota prévia”, onde se expõem informações pertinentes para o esclarecimento das circunstâncias de composição e publicação dos textos aqui reunidos. Dois deles haviam já integrado uma plaquette editada em 2001 pela Associação de Estudos Portugueses Jordão Emerenciano, ostentando o mesmo título. Pelo facto, assume-se esta publicação como uma segunda edição, muito embora consideravelmente ampliada. Como denominador comum, resultam todos os textos nela incluídos por serem o resultado de idênticas conjunturas, ou seja, solicitações feitas para intervenções do autor em sessões solenes para comemorar o dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas no mundo.

Em “Camões, a pátria simbolizada” – texto datado de 1995 –, começa o autor por tratar da escolha da data do dia de Camões como dia de Portugal, passando em revista outras datas que poderiam eventualmente ter sido escolhidas para semelhantes comemorações, acabando por relevar a importância simbólica de Camões enquanto figura exemplar maior de um povo, da sua mundivisão e modo de sentir, muito particularmente numa época de esplendor, e enquanto seu maior representante no campo das letras. Como é dito, é o cantor do expansionismo, descobertas e conquistas, mas também quem medita sobre a rotina dos que permaneceram em terra. “Sob a ótica e a ética do Renascimento, a construção de um Império como projeto civilizacional […]” implicava “levar aos confins do mundo a civilização ocidental […]” enquanto “obra missionária, até porque significava, também, a expansão da Fé” (p. 20). Dessa herança, resulta hoje uma comunidade dispersa pelo globo, “tão espiritual quanto aquele [Império] preconizado por Vieira, o da comunhão com os povos, o da busca da modernidade, o da cultura, o de uma língua presente em toda a parte do mundo e que por isso é uma Pátria também” (p. 21). Por isso, o leitor é levado a entender o sentido das celebrações do 10 de Junho: “[…] não é uma data política ou uma data histórica em que se celebre o Estado português, é uma data simbólica (estou quase a dizer uma data sagrada) em que se celebra a Alma portuguesa na Alma e na obra do Poeta que a representa” (p. 19), porque assim como Luís de Camões “foi a síntese perfeita das tendências literárias do seu tempo, seria, também, a síntese única e em todos os tempos da nossa história cultural, de uma muito específica maneira de ser português” (p. 17).

O segundo texto, intitulado “Celebrar Camões, celebrar Portugal, o Brasil e a Língua Portuguesa” foi redigido num ano específico, em 2000, numa data em que às do Poeta e de Portugal se associavam as comemorações do descobrimento do Brasil. Arranca com uma notável citação de Vergílio Ferreira, autor da predileção do autor, de que é um especialista privilegiado, sobre o qual dissertou nas suas teses de Mestrado e Doutoramento: “ Da minha língua vê-se o mar”, que justamente considera poder ter sido proferida pelo Poeta celebrado. É este texto um ensaio profundo que pressupõe todo um conhecimento perspicaz da literatura e da história da cultura portuguesa, de Quinhentos aos nossos dias, e uma penetrante reflexão “sobre Camões, sobre as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, sobre o Brasil” (p. 25). É que da língua portuguesa se vê, ouve, fala e lê o mar de Portugal, do Brasil, de África e do Oriente, numa especificidade e universalidade dificilmente encontradas noutras línguas e culturas. Celebrar Camões impõe-se, assim, enquanto comemoração das pátrias lusófonas, de todos os poetas em língua portuguesa, de cada português e de todos os portugueses espalhados por cada canto do globo. Por conseguinte por mais variadas que tivessem sido as faces que lhe atribuíram, Camões, mais do que Poeta do Império e da ideologia expansionista, de que o Brasil era parte integrante embora de recente achamento, também foi o Poeta dos críticos, da censura do Velho do Restelo, contrapondo um Império da Fé e da Civilização amparado pela ética renascentista ao projeto mercantil em que se desvirtuara, assim como seria o “desamparado poeta do desamparo” – e todas essas faces fazem dele o Poeta espelho de outros poetas, independentemente das Pátrias donde são provenientes, mas que por causa delas, das respetivas ideias e desconcertos do mundo sofrem o exílio, a pobreza e a saudade (Cf. p. 29). Por isso, se configurou o mito camoniano, de modo particular no século XIX, assumindo a figura do Poeta o estatuto não só de tema literário, como também motivo inspirador de artistas plásticos.

Invocando a lúcida análise dos mitos e de Portugal levada a cabo por Eduardo Lourenço, ainda se recorda o uso feito da imagem de Camões enquanto poeta da raça, de matriz lógico-positivista, e consequente versão nacionalista; pelo Saudosismo; por Eça de Queirós, enquanto expressão da decadência do país; para chegar à imagem de um Poeta do Império de uma Língua e uma Cultura que ajudou a modernizar, enfim, um império espiritual de uma Comunidade de 200.000.000 de falantes de todos os quadrantes, ligados pelo mar. Por isso, era também do mar que Pêro Vaz de Caminha viu na nova terra descoberta, os homens, a amizade e a Fé – o testemunho fundador da futura comunidade luso-brasileira, construída com todos os defeitos e vícios que um processo de colonização implicava. Urgindo “compreender a História e os homens e as circunstâncias de que ela é feita”, interpela o autor aqueles que questionam esta perspectiva, de que o Brasil é a obra maior que o português criou, contrapondo a invocação de nomes como Anchieta, Manuel da Nóbrega e António Vieira – também este preconizador de um “Império sonhado, o da cultura, da civilização, do espírito, da Língua…” (p. 37) – como exemplos de supranacionais, dessa Comunidade construída com e pelo idioma de Camões. A esses junta ainda Pessoa, Sophia e Saramago; Alencar, João Cabral e Gilberto Freyre; Jorge Amado, Cardoso Pires e Guimarães Rosa; Baltasar Lopes, José Craveirinha, Mia Couto e Pepetela, além de muitos mais que se podiam enunciar. Por conseguinte, citando Vergílio Ferreira – “Camões instaura em nós uma imagem de nós, desenvolvendo todas as nossas virtualidades em que possamos rever-nos por inteiro” (p. 38) –, conclui que Camões é “um poeta que paira acima de todas e quaisquer circunstâncias da História, da política e das ideologias sejam quais forem os seus propósitos. Um poeta da Língua Portuguesa, um poeta do espírito de comunidade. É este o nosso Camões, o Camões que queremos” (p. 33).

“O amor dos deuses e dos homens: paixão, sensualidade e erotismo n’Os Lusíadas” dá o nome ao terceiro texto datado já de 2013. Partindo do pressuposto de que, “como tantas outras [obras] que o tempo, a tradição, a recepção e a alta qualidade estética tornaram clássicas, Os Lusíadas também se popularizaram entre erros e acertos, entre equívocos e reduções, entre simplificações e desvios de sentido” (p. 39), o autor do texto propõe a sua leitura, evidenciando que, além de um poema sobre viagens, guerras e conquistas, se trata de um poema do amor e sobre o amor (Cf. p. 41), “do amor dos homens e dos deuses e da representação da paixão, da sensualidade e do erotismo” (p. 41-42). E tudo isso enquadrado na mundivisão renascentista assim sumariamente condensada:

“A epopeia de Camões não se submete a reducionismos porque, como poema renascentista, aspira à totalidade, à universalidade, ao integral saber de todo o conhecimento da época, ao universal sentir de todos os sentimentos humanos. Por isso lá estão toda a ciência do tempo, e toda a técnica (sobretudo a das navegações), todo o conhecimento do homem, do mundo e do cosmos, toda a História, a tradição, a cultura, a religião, a filosofia, a literatura… por isso, na épica camoniana convivem em harmonia elementos tão aparentemente díspares como a História e a mitologia, a realidade e a lenda, o bélico e o amoroso na violência das guerras e na suavidade do amor.” (p. 41)

Se na obra maior do Poeta convivem estas facetas tão variadas, não admira que uma atenção especial seja dada ao humano, ao sentimento, ao amor, incluindo a sua vertente sensual e erótica.
Assim, começa-se por apontar a primeira manifestação de amor sensual e erótico na epopeia no plano superior das divindades mitológicas – o da sedução de Júpiter por Vénus, no concílio dos deuses –, pondo em evidência os encantos físicos da deusa. Os restantes episódios abordados são: o de Inês de Castro (Canto III); o do Adamastor (Canto V); e o da Ilha dos Amores (Cantos IX e X).

Se bem que o de Inês de Castro, no plano da História e do humano, seja equiparado a “um suave intermezzo” (p. 46), muito embora tingido pelas cores da tragédia, trata do amor humano, do espontâneo sentimento da paixão que não conhece razões de qualquer natureza. Tornando-se a pedra basilar do “mito inesiano”, do “mito do amor português”, imortalizado na literatura desde a morte da heroína até aos nossos dias, nele apenas veladamente chegamos às “razões ou desrazões da perdição amorosa de Pedro e Inês: as da beleza do corpo feminino” (p. 48), não se evidenciando detalhes relacionados “nem sensualidade, nem erotismo”, mas sim paixão avassaladora.
O episódio a seguir tratado, o do Adamastor, de novo no plano do mito e dos deuses, privilegia, sim, a sensualidade e o erotismo, desta vez castigados e não premiados pela audácia e ousadia do protagonista, mais até do que o amor-sentimento. Neste passo, além da convergência do plano histórico, com o simbólico e o mitológico, adensada pelas oposições patentes entre o belo e o grotesco, na violência da ameaça e predição dos desastres dirigidos aos navegadores e na sublimidade do sofrimento amoroso, todos os ingredientes bem podem contribuir para que este episódio se adeque à tradição do locus horrendus. Em contraposição a este, o da Ilha dos Amores, marcado pela plenitude de claridade apolínea, alegria de viver, satisfação dos sentidos e do conhecimento, é o prémio de Vénus, a recompensa aos esforçados navegantes. Num espaço configurado segundo os cânones do locus amoenus, a ilha apresenta-se com um lugar ideal, paradisíaco, de felicidade e alegria, onde a flora exuberante representa um constante convite à luxúria e prazer sensual. Pelo facto, se os navegadores ficam na expetativa de semelhante terra ser rica em caça, logo verificam tratar-se de ser estranha a “caça” encontrada. E a cena transforma-se na apoteose suprema do prazer dos sentidos, da alegria de viver, da plenitude sensual e erótica, no único momento em que deuses e homens se encontram e se relacionam. Por consequência, devido a esse caráter de puro paganismo e carga sensual e erótica, logo os censores ao longo dos tempos o classificaram de imoral e anticristão, mutilando o poema do pleno conhecimento do público leitor, não obstante, depois da descrição da “máquina do mundo”, se declarar que o pleno conhecimento é do verdadeiro Deus, que ninguém está em condições de entender, e os deuses pagãos apenas assumirem uma função simbólica com objetivos deleitosos.

Por último, “Camões, poeta e soldado: um homem entre as musas e as armas” foi o único texto do volume que não foi composto para ser apresentado no Gabinete de Leitura do Recife, mas a convite do Instituto Cervantes do Recife e da Fundação Artístico-Cultural Iberoamericana, no auditório do Museu Militar do Forte do Brum (Recife) em 2015. É o binómio das “armas” e das “letras”, de que o próprio Poeta é legítimo representante, que serve de ponto de partida para a reflexão aqui apresentada, na medida em que os estereótipos de “poeta” e de “soldado” parecem à primeira vista excluir-se ou pouco terem em comum. No entanto, no Renascimento, o modelo de homem idealizado pressupunha uma formação englobante, enciclopédica, que reunisse as qualidades de bravura e sensibilidade, em simultâneo com coragem, determinação e lealdade, associadas a cortesia, suavidade de trato e cultura. Vários são, pois, os nomes citados, quer do contexto português, quer do espanhol e até do brasileiro que o materializam de maneira exemplar. Tal modelo viria depois, no século XIX a ser recuperado e atualizado com o comprometimento dos intelectuais nas lutas liberais e de libertação dos povos. Contudo, o paradigma mais acabado deste tipo de escritor-soldado é o próprio Camões, que encontra em Espanha um paralelo na figura de Miguel de Cervantes Saavedra, pelo que uma breve biografia comparada se esboça, afim de mostrar que não só nos aspetos focados, mas até em momentos de adversidade se aproximam ambos os autores nos respetivos percursos de vida. A rudeza da carreira castrense não impedia que poetas, como Camões, fossem versados nas mais agudas subtilezas dos códigos líricos da época, como as que o neoplatonismo proporcionava para o tratamento do amor contemplativo. A par, exaltava-se a disciplina militar fundada na prática e na experiência do quotidiano, e ainda em díspares funções e missões. Por isso, quer na lírica, quer na épica camonianas, o conhecimento do mundo físico e humano emparelha com o domínio patenteado na exposição da técnica e da estratégia militar nas descrições de batalhas e recontros sangrentos e impetuosos. “Armas e letras”, “Sapientia et fortitudo” são, pois, dois eixos do ideal cortesão de Quinhentos, fundados no “honesto estudo, com longa experiência misturado” (p.76). Como tal, também, no Dom Quixote tal tema não poderia deixar de estar presente: no discurso sobre as armas e as letras”, dos capítulos XXXVII e XXXVIII, são esses os tópicos sobre os quais se disserta. No entanto, não como aspetos complementares, mas como suportes de modelos diversos, um como o fundamento da sensibilidade para o exercício das letras e outro como base da prática das armas, por sua vez o suporte do ideal de virilidade renascentista. Na linha do que expõe em todo o poema, não deixa de ser curioso, no entanto, que no final d’Os Lusíadas, o Poeta se apresente a si próprio, pelo saber intelectual, engenho e arte nos campos das letras e destreza no das armas, bem como pela experiência de vida, como modelo de cortesão e conselheiro perante o Rei D. Sebastião “ Pera servir-vos, braço às armas feito; / Pera cantar-vos, mente às Musas dada”.

À semelhança de tantos camonistas que reúnem em volumes de ensaios os seus trabalhos antes dispersos, nada falta a este volume para, honrada e brilhantemente, emparelhar com eles. Os assuntos, temas e tópicos acima apresentados surgem finamente analisados, explorados e expostos e decerto que os ouvintes que tais intervenções escutaram nos momentos celebrativos saíram delas mais ricos, mais sabedores e conhecedores da arrebatadora obra camoniana.

LIMITE, 186, VOL. 10.2, RESEÑAS/RECENSÕES CRÍTICAS, pp. 185-192.

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Museu do Dinheiro

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O Museu do Dinheiro – inaugurado em abril de 2016 – está localizado na Baixa de Lisboa (Portugal), na antiga igreja S. Julião, e apresenta o tema do dinheiro, a sua história e a sua evolução, em Portugal e no Mundo.

Há muitas coisas para ver e fazer neste Museu: pode doar um testemunho, cunhar e imprimir moedas e notas virtuais com a sua cara, ver ao microscópio de que são feitas as notas, e ainda trocar, interagir e deixar-se inspirar por histórias de todo o mundo.


O Museu do Dinheiro conta ainda com uma diversificada programação cultural e educativa para todas as idades que, de forma original e pedagógica, permite envolver toda a família.

A Associação Portuguesa de Museologia (APOM), no dia 9 de junho, distinguiu o Museu do Dinheiro do Banco de Portugal como “Melhor Museu do Ano 2017”.


Para além do prêmio “Melhor Museu do Ano”, o Museu do Dinheiro foi ainda galardoado com uma menção honrosa na categoria de melhor website.

Os prêmios da APOM destinam-se a reconhecer os agentes e instituições de museologia portuguesa cujo trabalho se distinguiu ao longo do ano. São distribuídos por diversas categorias e têm como objetivo incentivar e premiar a imaginação e a criatividade dos museólogos portugueses, reconhecendo o seu contributo efetivo na melhoria da qualidade dos museus em Portugal, sendo também uma forma de dar visibilidade ao que de melhor se faz no âmbito da museologia no país.

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Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

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As novas regras do Acordo Ortográfico passam a ser obrigatórias a partir de 13 de maio de 2015, dia em que terminou o período de transição.

O Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC) é a plataforma que alberga os instrumentos que determinam legalmente a ortografia da língua portuguesa. Foi oficialmente reconhecido pelos Estados-Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) na X Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, que teve lugar em julho de 2014 em Díli.

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Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa
Brasil

VOLP: Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, 6.ª edição

A Academia Brasileira de Letras tem com a Academia das Ciências de Lisboa uma longa tradição lexicográfica que começa em 1933 com o Vocabulário Ortográfico e Ortoépico da Língua Portuguesa e se prolonga nas sucessivas edições do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), desde sua primeira edição em 1943.
Um Vocabulário Ortográfico – ao arrolar, com base em acervos de língua escrita, as palavras correntes na sua forma ortográfica oficial – é um instrumento fundamental para a gestão da ortografia da língua. Mas é importante não só por ser a referência da ortografia vigente, como também por poder servir de base para a elaboração dos dicionários gerais da língua.

Com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 fez-se necessário atualizar o VOLP – o que foi feito pela ABL na sua 5.ª edição (2009) – e também elaborar o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC) com dois objetivos fundamentais: listar as formas ortográficas autorizadas pelo Acordo Ortográfico (que admitiu, para alguns casos, formas ortográficas facultativas), e congregar o acervo de palavras correntes nos diversos países de língua oficial portuguesa (considerando que o Acordo Ortográfico unificou as normas ortográficas da língua, superando a pluralidade até então existente). Para a elaboração do VOC, a ABL cedeu, oficialmente, sua base lexicográfica que, depois de tornada compatível com o sistema usado no VOC, passou por um amplo processo de validação por meio do cruzamento de seus dados com várias outras fontes lexicográficas, entre as quais o Vocabulário Ortográfico Português (VOP), o corpus lexicográfico do Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional da USP/ São Carlos – NILC (que serve de base ao corretor ortográfico do Microsoft Office do Brasil) e o Corpus Brasileiro (Berber Sardinha da PUCSP).

O resultado foi uma nova edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa que passou, então, a integrar o VOC. Nesta feição apresenta outras vantagens, porque todas as palavras arroladas foram devidamente validadas, além de agregar novas informações, tais como a divisão em sílabas, a marcação da sílaba tônica, o paradigma flexional, relações funcionais com outras entradas (especificamente com palavras morfologicamente relacionadas), bem como índices de frequência.

Deste modo, esta edição do VOLP representa um significativo avanço no registro lexicográfico brasileiro e, por isso, se reveste de grande importância como fonte segura de consulta para os especialistas e para o público em geral.

Ao mesmo tempo, estando integrado ao VOC, o VOLP contribui para este valioso instrumento que, agregando os Vocabulários Nacionais de todos os países de língua oficial portuguesa, serve não só de referência lexicográfica para toda a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, como também permite uma gestão efetivamente conjunta da ortografia da língua.

Carlos Alberto Faraco e Evanildo Bechara

Membros representantes do Brasil no Corpo Internacional de Consultores do VOC
Como citar esta obra:
Bechara, Evanildo (coord.) (2017). Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 6.ª edição. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras.

Fonte: Camões, I.P.

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Interrogado sobre a diferença existente entre os homens cultos e os incultos, disse: ‘A mesma diferença que existe entre os vivos e os mortos’.
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