
“Ser baiano” é viver em uma permanente festa… para os olhos.
Hoje, quem chega pelo mar à “Bahia”, isto é, à Cidade do Salvador – capital do estado da Bahia/antiga capital do Brasil – ainda percebe quase a mesma fachada de sempre, com o seu pavimento térreo, ao nível do mar; e o superior, a arranhar o céu –separados por uma visão de encostas verdes e ladeiras marrons– em contínuo processo construtivo de substituição daquela cor por esta – da vegetação pela construção, da natureza pela engenharia. Assim, de fora, apenas em frente à sua fachada, ninguém percebe que – no seu interior, por trás desta – há um nível intermediário também com água (o dique do Tororó), que, nos anos do século passado, era conhecido como o “dos trilhos centrais” dos bondes, hoje substituídos pelas famosas “avenidas de vale” dos automóveis.
Em verdade, essa cidade é quase uma ilha, com água por três lados – uma península entre o Oceano Atlântico (de frente para a África) e a Baía de Todos-os-Santos – com sua ponta voltada para o Sul, chamada Ponta do Padrão, onde se encontra uma fortaleza (Forte de Santo Antônio) na qual foi montado um farol (Farol da Barra) e instalado um museu náutico, exatamente o ponto que determina o extremo norte da barra da Baía de Todos os Santos, isto é, da linha que é a sua boca, ligando tais pontos extremos, ou melhor, separando as águas da baía daquelas do oceano. Há, já, algum tempo que, por motivos estratégicos e econômicos – o governo federal do Brasil alterou essa linha, que os descobridores portugueses haviam definido geograficamente ao pôr a outra ponta (extremo sul da barra) em uma fortaleza construída na foz do rio Una, em Morro de S. Paulo, determinando-se que a Capitania Hereditária da Baía de Todos-os-Santos terminava ali, fazendo limite com a de Ilhéus. Assim, a nova determinação político-econômica, contrariando a geografia, trouxe esta outra extremidade da boca da BTS para a ponta do Garcez, atrás da ilha de Itaparica, onde está até hoje, determinando uma “barra-falsa”, contra a natureza, assim anticientífica. O governo federal brasileiro fez uma Baía de Todos os Santos menor do que aquela, feita pela natureza e descoberta pelos portugueses.
Adinoel Motta Maia